Como Morrem os Médicos?
Cynara Menezes
Por que os médicos não utilizam, no seu próprio final da
vida, os procedimentos dolorosos que receitam a seus pacientes?
Escritores octogenários que entrevistei coincidiram em dizer
que o duro na vida não é envelhecer, mas enterrar os amigos, aguentar a saudade
deles que fica. Você começa a encarar a morte de perto. Suponho que a isso se
chame amadurecer. E dói.
Dizem as estatísticas que a média de idade das pessoas
subiu, mas a realidade ao lado da gente desmente a estatística. Cada vez que
uma pessoa querida se vai, fico pensando na forma como nós encaramos a morte e
como a medicina tradicional nos trata no final de nossas vidas. Será que não
existe uma maneira menos sofrida?
Pesquisando sobre o tema, encontrei, em um dos meus sites de
jornalismo independente favoritos, o Alternet, um artigo do mês passado muito
esclarecedor, que traduzi, adaptei e publico para vocês, sobre como os médicos
norte-americanos planejam a própria morte. E a imensa maioria opta por não
fazer os tratamentos invasivos que eles mesmos indicam a seus pacientes,
preferindo cuidados paliativos.
Os cuidados paliativos são um conceito em ascensão no mundo
mas que engatinha no Brasil por desinteresse da classe médica. É chamado de
hospice ou “casas para os que morrem”: centros voltados para a melhoria da
qualidade de vida de pacientes diagnosticados com doenças incuráveis. Para que
possam passar seus derradeiros momentos no mundo tranquilos, assistidos, da
maneira menos dolorosa possível, cercado pelos familiares, em vez de tentando
procedimentos invasivos –e inócuos– até o fim.
(Há um bom artigo científico sobre o movimento hospice,
inclusive no Brasil, aqui.)
Esta reportagem aborda também o lucro que o prolongamento da
vida com o uso de aparelhos dá à indústria da assistência médica, à custa do
sofrimento do paciente e dos familiares. Leiam. Espero que seja útil para
alguns de vocês.
***
O segredo dos médicos para morrer direito
–Por que médicos fazem escolhas diferentes que a maioria de
nós no final da vida?
Por Melinda Welsh, Sacramento News & Review
O dr. Ken Murray escreveu um artigo para a revista online
Zócalo Public Squarepensando que, com sorte, atrairia algumas dúzias de
leitores e um comentário ou dois. Em vez disso, o médico recebeu uma avalanche
de respostas. Na verdade, o que ele escreveu o colocou no meio de um debate
sobre a vida, a morte e médicos.
O que ele revelou de tão avassalador?
Revelou que a imensa maioria dos médicos faz escolhas para o
fim da vida dramaticamente diferentes do resto de nós. Dito de uma forma
simples, a maioria dos médicos escolhe conforto e calma em vez de intervenções
ou tratamentos agressivos Visto de outra maneira, médicos rotineiramente
ordenam procedimentos aos pacientes no fim da vida que eles não escolheriam
para si mesmos. CONTINUE LENDO
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