A Cobra Corpórea era um ser encantado. Nada mais nada menos.
Assim como uma fada europeia. Não, não. Era brasileira, mesmo, como o Boto
Cor-de-Rosa ou o Saci-Pererê, os mais universais dos encantamentos nacionais,
na minha opinião.
Só a viam os paranormais e as crianças de Recanto das Antas,
um lugarejo perdido no sertão; eles se mostravam fascinados com o pequeno ser,
de corpo de serpente e cabeça humana, aparentemente feminina, por causa dos
longos cabelos, mas eventualmente andrógino. A voz, segundo os videntes, era de
mulher, ou melhor, de pré-adolescente, de quase menina. De qualquer forma, esse
talvez fosse o detalhe menos polêmico da Chocalho descrição do ser. Meu
trabalho é estranho: sou jornalista ateu, racional, não acredito em nada dessas
coisas, mas trabalho para quem acredita e assim, como profissional sério, devo
ser o mais preciso possível nas descrições.
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