Segundo colunista da Folha, frase "nós dois somos possibilidades e sabemos disso", emitida pela ex-ministra em entrevista é clara e objetiva admissão de candidatura própria
10 DE OUTUBRO DE 2013 ÀS 06:58
247 – Colunista da Folha, Janio de Freitas diz que entrevista de Marina Silva sobre possibilidade de ser candidata em 2014 é uma faca nas costas de Eduardo Campos. Leia:
O não dito pelo dito
A frase 'nós dois somos possibilidades', emitida por Marina, atinge Eduardo Campos pelas costas
A frase "nós dois somos possibilidades e sabemos disso", emitida por Marina Silva, é a precipitação talvez involuntária, mas certamente sincera e sem dúvida verdadeira, de um desmentido que atinge Eduardo Campos e sua candidatura pelas costas.
É clara e objetiva a admissão de candidatura própria na frase de Marina Silva, recolhida por Ranier Bragon e Matheus Leitão (Folha de ontem). Frase que não ficou contida por mais do que umas 24 horas após a revelação, pelo intermediário da entrada de Marina Silva no PSB, de que Eduardo Campos recebeu com resistência a proposta de adesão, preocupado em salvaguardar sua candidatura. Argumentou que não poderia retirá-la, e perguntou: "Vou ser constrangido?" [a retirá-la].
Resposta contada aos mesmos repórteres pelo próprio interlocutor de Eduardo Campos, deputado Walter Feldman: "Eu disse: A Marina pretende te apoiar, você não será constrangido a retirar sua candidatura, queremos uma aliança programática. Estamos no seu projeto".
Em texto dos dois entrevistadores: "Segundo relato do deputado, ele disse ao governador que Marina não tinha essa intenção [JF: de ser a candidata à Presidência] e que pretendia (mesmo com 26% das intenções de voto na última pesquisa Datafolha) apoiar o pessebista, com apenas 8%".
Ainda na relato de Feldman, Eduardo Campos relutou ante a sugestão de um encontro com Marina Silva, temeroso de desgaste se a conversa fracassasse. Por fim concordou, foi encontrá-la em Brasília, e nenhuma candidatura esteve sob condição.
Mas está. Desde já. Ou, quem sabe, desde antes. Eis o trecho todo nas palavras de Marina Silva:
"Para nós, não interessa agora ficar discutindo as posições. Nós dois somos possibilidades e sabemos disso. Que possibilidade seremos, o processo irá dizer e estamos abertos a esse processo".
Bem nítido: "Não interessa [discutir] AGORA", o mesmo que dizer da expectativa já existente de discutir a questão adiante. Quando? Não será Eduardo Campos a ter a palavra a respeito. Nem será o PSB que a decidir. "O processo irá dizer." E, mais do que falar por si, Marina se permite falar pelo próprio Campos: "ESTAMOS abertos a esse processo".
O oposto do assegurado a Eduardo Campos, como relatado por seu interlocutor, intermediário de Marina Silva e testemunha do encontro, Walter Feldman, que deixou o PSDB para acompanhar sua líder no projeto via PSB.
A situação de Eduardo Campos não deixa de ter graça. Ele começa a mostrar-se a verdadeira Dilma Rousseff imaginada nas tantas loas à jogada "brilhante e inovadora" de Marina Silva ao incorporar-se à candidatura do PSB, contra a da presidente à reeleição. Ao menos desde ontem pela manhã, quando publicada a entrevista de sua nova associada, Eduardo Campos só pode ser um exemplo de apreensão. Mas sorridente, muito sorridente. Obrigado a sorrir, a repetir-se feliz com o acordo e, claro, absolutamente confiante no apoio de Marina. E, quanto mais se mostre assim, mais será o contrário.
Até por uma possível dor nas costas.
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