Fernando Brito, no Tijolaço
Eu convivi, certa feita, com dois idiotas, ambos de péssimo
caráter, a quem chamávamos de Azeitona e Empada, de tanto que se completavam as
suas nulidades.
Como não tinham capacidade de raciocinar com profundidade,
apelavam para expressões pernósticas para explicar suas estultices, e a
preferida era “quebrar os paradigmas”.
Volta e meia, quando não tinham o que dizer, falavam que
“era preciso quebrar os paradigmas”.
Nem é preciso dizer que eu e outros ironizávamos:
- Ah, vou me atrasar, o carro quebrou o paradigma…
- Fulano está no hospital? Por que? Quebrou o paradigma,
coitado…
Por isso, fico incomodado quando vejo Marina Silva falando
em disruptura.
“Eu insisto que é preciso um projeto de país e essa
disruptura será boa para todo mundo”.
Bem, vamos achar que ela está querendo falar em disrupção,
do latim disruptio, fratura, quebra, despedaçar, romper, destruir…
Em política, o significado seria, então, o de revolução, não
é?
Por que fugir da palavra, mesmo com as ressalvas de que
seria pelo voto, sem violência ou atropelos?
Porque Marina adotou, como todos vemos, uma agenda cheia de
palavrórios mas, em termos de conteúdo, idêntica a do conservadorismo.
Apresentou-se, logo que teve oportunidade, como a defensora
do status quo.
O tripé, a santíssima trindade do neoliberalismo.
É o crucifixo que não se pode deixar de adorar, embora se
saiba que o crucificado ali é o povo.
Nega-lo é heresia e heresia é fogueira.
Tanto que se diz que Dilma o negligencia e ela tem de vir a
público dizer que nele crê, mesmo que
não seja sempre “praticante”.
Mas em Marina, não se pode negar, a fé é fundamentalista.
Ao ponto de seu “irmão” Aécio o reconhecer:
Ele (Aécio)ainda se colocou ao lado da ex-senadora Marina
Silva, que afirmou que o governo atual flexibilizou o controle da inflação e da
política fiscal. O senador disse que considera que as propostas da candidatura
do PSB com a Rede são “muito semelhantes” às do PSDB.
- Vejo que há uma aproximação do discurso da Marina com
aquilo que o PSDB vem pregando. Tenho certeza que uma eventual candidatura do
PSB nasce exatamente por essa visão muito semelhante à nossa, de que esse ciclo
de governo do PT, em beneficio do Brasil, tem que ser encerrado.
Pouco importa se Marina Silva é ou não uma pessoa de
direita, embora eu tenda a achar que ninguém possa ser de esquerda com seu
fundamentalismo moral. O fato objetivo é
que parte da direita sentiu nela – e no seu comportamento marcado por
personalismo, rancores e vaidades – a oportunidade de dividir e derrotar um
projeto progressista que, ficou claro, as ambições traiçoeiras de Eduardo
Campos, o vazio de Aécio Neves e a repugnância de José Serra não permitiriam.
Tal como Fernando Henrique, na sua gabolice estúpida, disse
que chegava ao poder para sepultar a Era Vargas, Marina vem para tentar
sepultar a quadra histórica mais semelhante àquela que já tivemos: a Era Lula.
Só que vai ter de se defrontar com o retrato do Velho, outra
vez. E de um Velho vivo, vivíssimo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário