Heitor nasceu também com encurtamento das pernas.
Família realiza campanha para arrecadar doações.
Natália de Oliveira
Do G1 Sorocaba e Jundiaí
A escolha do nome já parecia ser um presságio:
"Heitor", aquele que se mantém firme e não se abate. A alegria e o
olhar, que se destaca pela cor ora esverdeada, ora azul, é contagiante. Os
longos cabelos também chamam atenção, tanto que já lhe renderam o apelido de
"Bebelon". Heitor Cordeiro pode ter só três meses, mas já parece
driblar as dificuldades impostas pela sua condição física com um sorriso
estampado no rosto: por causa de uma má-formação, ele nasceu sem os braços e
com encurtamento das pernas.
“Nem todos os anjos tem asas, às vezes eles têm apenas o dom
de nos fazer sorrir”, dizem os pais, Marcos Adriano Cordeiro Junior, de 22
anos, e Talitalinda Aparecida Ribeiro Cordeiro, de 21 anos. O jovem casal, que
mora na Zona Norte de Sorocaba (SP), se casou em 2011. Em junho de 2012,
Talita, como é conhecida, ficou grávida. Três meses depois, o casal estava
ansioso para saber o sexo do bebê. Foi então que a ansiedade deu lugar ao medo
e à revolta momentânea. “Fomos fazer a ultrassonografia e a médica logo disse
‘Olha o documento dele aí’, já nos dando a entender que era um menino. Porém,
logo em seguida, a médica ficou calada e eu percebi que algo estranho estava
acontecendo, porque ela parecia procurar, procurar...", conta a mãe.
Depois de alguns instantes em silêncio, a médica perguntou
se havia alguém na família com má-formação de membros. “Na hora eu já comecei a
ficar nervosa e respondi: ‘meu irmão, ele tem um braço maior que o outro’. Foi
aí que a médica contou que não estava conseguindo identificar os membros
superiores do meu bebê e que os membros inferiores eram menores do que ideal
para o tempo de gestação”, diz a mãe, lembrando que, naquele momento,
"perdeu o chão". “Saí do consultório com um sentimento de revolta, me
perguntando o que tinha feito de errado para merecer isso", revela.
A médica orientou o jovem casal a repetir o ultrassom depois
de um mês, para poder, assim, confirmar o quadro de má-formação que havia
diagnosticado. Depois de um mês, Talitalinda optou por fazer o exame com outro
médico, especialista em feto. Ela conta que antes da ultrassonografia não
mencionou o diagnóstico da médica anterior, na esperança de que fosse um
engano. “Eu não estava querendo aceitar, eu estava acreditando que poderia
acontecer um milagre”. Mas o diagnóstico foi confirmado.
Marcos lembra que também demorou para acreditar na história,
mas manteve-se firme e assumiu a postura de apoiar a parceira. “Eu aceitei o
meu filho como ele era, então não me preocupei. Na verdade, a minha preocupação
foi com a minha esposa, tive medo que ela rejeitasse meu filho, que tivesse
algum tipo de depressão pós parto ou coisa do tipo”, explica. Mas, após o susto
inicial, a mãe passou a curtir a gravidez como toda mãe ansiosa.
Caso raro
De acordo com o que o médico explicou para os pais do bebê,
além dele ter nascido sem os braços, alguns ossos da perna esquerda não
desenvolveram, como o fêmur e a fíbula, e o pé nasceu com apenas quatro dedos.
Já na perna direita, o fêmur é encurtado e, ao mesmo tempo, aparenta estar
quebrado. “O médico ortopedista disse que nunca tinha visto um caso como o do
Heitor e nos falou que é um grau de má-formação raro. Somente quando ele
atingir os dois anos de idade vamos saber quais habilidades ele irá
desenvolver, que cirurgias poderão ser realizadas e qual tipo de prótese é
ideal para ele”, conta Marcos.
Em outubro, o bebê será submetido a exames com um
geneticista de Sorocaba para identificar o que acarretou na má-formação. “Só
depois desse exame vamos saber se é um problema genético, como uma
má-combinação dos nossos sangues, ou se foi um caso esporádico”, explica o pai.
Talita ressalta que, caso seja comprovado um problema genético, irá optar por
não ter mais filhos. “Cuidar de uma criança como o Heitor demanda muito tempo e
dedicação. Por isso, se for algo genético, vamos nos concentrar apenas em dar o
melhor para ele."
Futuro
Como todo pai e mãe, a preocupação com o futuro do filho é
constante. “Quero que ele consiga andar, que tenha o máximo de independência
possível, mesmo com as suas limitações”, diz o pai. Como forma de se planejarem
para as despesas com cirurgias e próteses de que Heitor vai precisar, os pais
buscam doações.
Talita criou uma página no Facebook onde compartilha
informações sobre o desenvolvimento do bebê. Em pouco mais de três meses, a
página ganhou mais de 17 mil seguidores. “Recebemos apoio de tantas pessoas,
até mesmo de gente que não conhecíamos. As palavras deles nos ajudaram a
enfrentar tudo com muita fé e otimismo. Foi deles a ideia de criar uma poupança
para o Heitor”, diz a mãe.
Por meio do Facebook os pais vendem camisetas com a foto do
bebê e promovem rifas. Além disso, a família e os amigos organizaram uma
quermesse para este sábado (17), no próprio bairro onde moram, em Sorocaba, com
direito a comida, pesca, bingo, pintura facial, exposição de serpentes e até
show sertanejo. “Inicialmente, íamos fazer algo entre os familiares e amigos do
bairro, mas, depois que divulguei na internet, a adesão foi muito grande e
recebemos diversas doações. Vamos conseguir fazer uma festa muito linda e todo
o dinheiro arrecadado vai direto para a poupança, para dar mais independência
para o Heitor no futuro”, explica Marcos.
Especialização em prol de Heitor
Estudante de Projetos na Fatec de Sorocaba, Marcos planeja,
ainda, fazer um curso de engenharia. O motivo, de acordo com o jovem, é poder
contribuir com o futuro do filho e de tantas outras crianças que, assim como
ele, precisam de ferramentas para ter uma vida mais independente. “O Heitor vai
depender dos outros para quase tudo e quero poder adaptar toda a nossa casa
para amenizar isso. Como, por exemplo, criar formas dele abrir uma porta, a
geladeira, sem precisar dos braços. Vou precisar de formação para conseguir
isso", explica.
Além disso, o pai acredita que todo o aprendizado que estão
tendo com o pequeno Heitor também poderá levá-los a criar uma ONG para auxiliar
outras pessoas que passam pelas mesmas dificuldades que eles. “Nossas forças
estão focadas no nosso filho, mas isso não significa que, depois de já termos
tudo mais engatilhado para um futuro melhor para ele, não nos dediquemos também
a ajudar o próximo”, finaliza Marcos.
(G1)
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