*Por Clécia Azevedo Rocha
Situado
às margens da BR-116 Sul, o Povoado de Cabeça da Vaca, que está localizado á
160 km de Salvador, já foi considerado como um dos maiores pontos de
prostituição da região Nordeste. No entanto, atualmente, trabalhar com
mulheres não tem sido tão lucrativo como em outros tempos.
De acordo Cícera Pinheiro, ex-prostituta e proprietária de um prostíbulo na localidade, a queda no comércio de prostitutas se dá devido a concorrência com os prostíbulos situados em centros mais movimentados. “A Cabeça da Vaca já foi bem badalada a noite. Hoje, praticamente acabou. As meninas que aparecem são bem poucas e vindas de outros estados como Minas, Pernambuco, Ceará. A maioria dos homens que procura uma garota, chega na cidade e encontra, não precisa parar em pista”, disse a dona do bar.
Ela frisa que o valor cobrado pelas garotas também é um fator relevante para
a queda nos lucros. “As que ainda restam cobram no máximo R$ 40. Tem muitas
que chegam a pedir R$ 20 pelo programa. Isso pode variar conforme seja a
condição financeira da pessoa”, detalhou. Entretanto, existem outros
fatores de diferenciação de valores pelo programa na casa. “Temos o mais
caro, que é para os homens casados e com uma melhor condição e os mais
baratos ficam para os bêbados e para as ‘piranhas’. Tanto os que usam o mais
barato e o mais caro, antes de começar o programa, ele tem que colocar o
valor do quarto e o da menina na minha mão. Depois que ele sair eu entrego o
dinheiro a ela", explicou a dona do bar antes de destacar que o objetivo
é evitar confusões na hora do pagamento pelos serviços.
Segundo Tia Eva, proprietária de um dos bordéis mais antigos da localidade, oferecer tratamento digno às garotas é uma boa saída para mantê-las naquele estabelecimento. “Elas chegam aqui, comem, dorme e não cobro nada por isso. O que acontece é que elas correm atrás do dinheiro delas e eu do meu. O meu lucro aqui é adquirido pela ocupação do quarto, quanto ao valor do programa, quanto elas ganham, isso não me interessa”, concluiu.
Cotidiano de uma prostituta
O
movimento na BR-116 Sul começa por volta das 20 horas. Esse é o horário em
que as garotas começam a se aproximarem da pista e dos bordéis a procura de
clientes. Uma das profissionais do sexo de nome fictício “Milena” afirma que
o movimento nos bordéis sofreu uma queda significativa. Mas, o
cenário atual, como explica Milena, não impossibilita os ganhos suficientes
para sustentar vaidades como fazer as unhas, comprar roupas e, ainda, ajudar
no sustento de casa.
Ela não concorda com a idéia de que prostituir-se é algo que denigre a imagem da mulher. “Não vejo nada demais está na pista em busca de clientes. Assim como o professor sai todos os dias para ensinar as mesmas coisas na sala de aula, eu tenho que estar aqui para marcar o meu ponto e garantir o meu pão de cada dia”, disse Milena, que já vive na Cabeça da Vaca há cinco anos. Aos 22 anos de vida, a garota de programa, revela que a profissão já lhe trouxe prejuízos. “Tinha um relacionamento sério com um rapaz. Existia uma química muito forte entre a gente, mas depois que ele descobriu que eu fazia ponto na Cabeça da Vaca, ele me largou”, conta. Ao ser questionada sobre a possibilidade de mudar de ramo, ela afirma: “não sei fazer outra coisa”. Para “Milena”, a prostituição em rodovias é algo comum, uma profissão digna. “Considero muito normal. Não importa se faço três, quatro ou cinco programas, se cansar tenho o dia seguinte todinho para repousar e a noite voltar ao batente. O nosso trabalho não está ligado ao nosso prazer e nem tampouco ao gozo próprio, mas ao do cliente”, ressaltou.
+ Estudante de jornalismo
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