sexta-feira, 23 de setembro de 2011

UM SITE PARA REFRESCAR A MEMÓRIA DAS DIRETAS JÁ

No Blog do Ricardo Kotscho

Veio em boa hora o site "Brado Retumbante _ do golpe às diretas", lançado na noite desta-segunda-feira pelo jornalista Paulo Markun e o Instituto de Cultura Democrática, no Museu da Imagem e do Som, em São Paulo.
No momento em que a desinformação, a falta de memória ou a má-fé tentam fazer comparações entre os recentes protestos contra a corrupção e o maior movimento cívico já visto no país, nada como contar a história como a história foi, narrada pelos seus próprios protagonistas.
Markun já gravou mais de 70 depoimentos de líderes políticos, religiosos, sindicais e empresariais, intelectuais, artistas e jornalistas que estão no site www.bradoretumbante.org.br e servirão de base para um livro.
Muitos destes personagens estavam no MIS ontem à noite. Quando me chamaram para falar, brinquei que me sentia num filme de época e parecia um garoto perto deles. Se hoje todo mundo pode protestar à vontade e votar em quem quiser sem pedir licença, devemos muito a esta geração que fez o Brasil ficar de pé novamente.
A campanha das Diretas Já nasceu no final de 1983, com um comício em frente ao Estádio do Pacaembu e um objetivo bem definido definido: a volta das eleições diretas para a Presidência da República, um marco na luta pela redemocratização do país após 20 anos de ditadura militar.
Foi um movimento suprapartidário que mobilizou a nascente sociedade civil, com brasileiros de todas as classes sociais, idades e cores partidárias, unidas pela reconquista das liberdades públicas numa grande festa popular que varreu o país de ponta a ponta até abril de 1984.
Nada tem a ver com os recentes protestos organizados pelas redes sociais e amplificados por setores da mídia grande, com uma pauta difusa "contra tudo o que está aí", tendo por gancho a corrupção que assola o país faz muito tempo, sem apontar qualquer solução concreta.
Para começar, não havia internet nem celular em 1984 e, com a honrosa exceção do jornal "Folha de S. Paulo", os principais veículos da imprensa brasileira boicotaram até onde puderam o noticiário sobre o movimento que ganhava as ruas.
Só quando não dava mais para ignorar o mar de gente que crescia a cada comício, nossa intrépida imprensa ousou mostrar o que estava acontecendo no país.
Agora é fácil, qualquer blogueiro nervoso pode passar o dia inteiro xingando o governo, todos os poderes constituídos e o mundo, mas naquela época os valentes se escondiam no anonimato das redações sob controle.
Motivação, mobilização, papel da imprensa, dos partidos e da sociedade civil, o clima vivido no país _ não há termos de comparação, como alguns insistem em escrever, entre o Brasil de 1984 e o Brasil de 2011.
Não havia naquela época esta mistura de jovens idealistas em busca de uma bandeira e malacos velhos procurando um atalho para voltar ao poder que perderam em 2002, agora a bordo de um movimento dito "apolítico e apartidário", como se isto fosse possível.
Vivemos o mais longo período de amplas liberdades públicas desde a Proclamação da República, o país cresceu e distribuiu renda, é respeitado lá fora e aqui dentro os brasileiros melhoraram de vida, resgataram a auto-estima, o orgulho de ter nascido aqui, apesar de todas as mazelas que ainda sobrevivem.
Fiquei feliz por ter participado desta jornada de 27 anos atrás como repórter da "Folha" e de poder reencontrar tantos amigos no MIS, alguns que não via há muito tempo, a começar pelo grande Osmar Santos (foto baixo), o homenageado da noite de segunda-feira.
Valeu, pessoal.

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