Por Ayrton Centeno,
no jornal Brasil de Fato:
Não existe maior espanto no Brasil de 2019 do que a
desaparição do espanto. Nada espanta mais. O cotidiano do poder na Pátria Amada
tornou-se tão assombroso que tudo é possível, tudo é crível. Todo dia o Absurdo
diz “Oi” para a gente, e a gente responde como se não fosse uma aberração, mas
nosso vizinho de porta.
Bastaram duas semanas de regência
militar-evangélica-neoliberal para se desatarem os últimos fiapos das amarras
que ainda nos prendiam ao real. Os eventos deste janeiro insano, as vacilações,
as asneiras, os tropeções, as cabeçadas, a exaltação da estupidez nos
arremessaram no meio de algo similar a uma comédia dos "Três
Patetas", com a desvantagem óbvia de que os patetas aqui não são apenas
três. Mesmo assim, não ficamos estarrecidos como a situação nos impunha. Parece
mesmo que o espanto foi sequestrado.

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