Por Fernando Brito
Os mais jovens não vão, talvez, me entender.
Mas há uma mórbida semelhança do julgamento de Dilma
Rousseff e o de Raul “Doca” Street, o playboy que, nos anos 70, matou a sua
amante, Ângela Diniz.
O motivo?
Ciúmes e um comportamento que Doca considerava ofensivo.
Foi o seu argumento ridículo para sustentar a tese da
“legítima defesa da honra” e, com isso, explicar os quatro tiros de pistola
sobre Ângela Diniz, sobre quem achava que o comportamento não era adequado.
Desta vez, foram 60 tiros que nos nossos “Doca Street” – ou
tão canalhas quanto eles – dispararam sobre uma mulher “que não se comportava
bem” no Governo.
Penso nisso quando lei, nesta hora, aqueles que, numa
suposta boa-fé, cuidam de apontar seus erros.
Não foi uma condenação por um crime, definido e
estabelecido.
Foi pelo “conjunto da obra”, foi pelo direito de “defesa da
honra”.
Ela não era, como deveria ter sido, recatada e do lar,
submissa e dócil a oligarquia política que domina o Congresso.
Não mendigou a “união nacional” com o derrotado Aécio Neves.
Não cedeu ao escroque Eduardo Cunha.
Não rastejou atrás do perdão do PMDB.
Nem discuto se, na política, algo assim poderia ser feito em
benefício de causas maiores, embora eu não creia que se vá ao inferno à procura
de luz.
Não sei em que desvão da história está “Doca Street”, mas o
lixo onde estiver ainda é limpo demais para isso.
Ângela Diniz está morta.
E, pela sua morte, milhares de mulheres vivas.
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