Minha primeira geladeira e por que o Brasil de hoje lembra a Inglaterra dos anos 60
Acho que nasci com alguma parte virada para a lua. Chegar ao
mundo na Inglaterra em 1965 foi um golpe e tanto de sorte. Que momento! The
Rolling Stones cantavam I Can’t Get no Satisfaction, mas a minha trilha sonora
estava mais para uma música do The Who, Anyway, Anyhow, Anywhere.
Na minha infância, nossa família nunca teve carro ou
telefone, e lembro a vida sem geladeira, televisão ou máquina de lavar. Mas
eram apenas limitações, e não o medo e a pobreza que marcaram o início da vida
dos meus pais.
Tive saúde e escolas dignas e de graça, um bairro novo e
verde nos arredores de Londres, um apartamento com aluguel a preço popular –
tudo fornecido pelo Estado. E tive oportunidades inéditas. Fui o primeiro da
minha família a fazer faculdade, uma possibilidade além dos horizontes de gerações
anteriores. E não era de graça. Melhor ainda, o Estado me bancava.
Olhando para trás, fica fácil identificar esse período como
uma época de ouro. O curioso é que, quando lemos os jornais dessa época, a
impressão é outra. Crise aqui, crise lá, turbulência econômica, política e de
relações exteriores. Talvez isso revele um pouco a natureza do jornalismo,
sempre procurando mazelas. É preciso dar um passo para trás das manchetes para
ganhar perspectiva.
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