A Folha fez o possível.
Colocou a chamada lá no cantinho de baixo, bem pequenina.
Mas não adianta.
Carlos Alexandre de Souza Rocha, o Ceará, entregador de
dinheiro do doleiro Alberto Youssef, afirmou, em depoimento que levou R$ 300
mil no segundo semestre de 2013 a um diretor da empreiteira UTC, de nome
Miranda ( Antonio Carlos D’Agosto Miranda) que seriam entregues ao senador
Aécio Neves.
Segundo o “entregador”, Miranda ficou aliviado, pois estaria
sendo cobrado pela quantia por Aécio, teria dito o diretor da empreiteira.
Aécio, claro, nega tudo. Diz que sua campanha só recebeu legalmente da UTC
para a campanha.
E quem disse, senador, que era pra a campanha? R$ 300 mil, o
senhor me perdoe, não é padrão de campanha, onde a coisa é na casa do milhão.
Tudo tem mais força porque a alta direção da UTC já havia
admitido, em depoimentos, que Miranda recebia, guardava e entregava dinheiro
destinado a políticos.
“E o Aécio Neves não é da oposição?”, teria dito Rocha. O
diretor da UTC teria respondido, na versão do delator: “Aqui a gente dá
dinheiro pra todo mundo: situação, oposição, […] todo mundo”.
O comitê da campanha presidencial do tucano em 2014 recebeu
R$ 4,5 milhões da UTC em doações declaradas à Justiça. A campanha de Dilma
recebeu R$ 7,5 milhões.
Rocha disse ter manifestado estranheza sobre o local da
entrega ser o Rio de Janeiro, já que Aécio “mora em Minas”. Miranda teria
respondido que o político “tem um apartamento” e “vive muito no Rio de
Janeiro”.
O delator disse que não presenciou a entrega do dinheiro ao
senador e que ficou “surpreso” com a citação.
Rocha prestou o depoimento em 1º de julho. Em 4 de agosto,
foi a vez de Santana também dar declarações.
Embora tenha dito que Miranda não tinha “nenhuma
participação no levantamento do dinheiro para formar o caixa dois” da
construtora UTC, Santana observou que “pode ter acontecido algum episódio em
que o declarante ou Pessoa informaram a Miranda quem seriam os destinatários
finais da entrega”.
Miranda, que é apontado pelo próprio Ministério Público comoo responsável pelos “acertos” de propina com o PMDB na obra de Angra 3, seria,
por óbvio, o próximo passo de qualquer investigação séria. Mas Miranda, ao que
se saiba, não foi preso nem deixado mofar na cadeia até que entregasse os
chamados “agentes políticos”, é claro.
Dinheiro para Aécio Neves não é coisa que venha assim “ao
caso”, nem uma
delação com este potencial explosivo vaza no dia seguinte, como
as outras.
Até porque a investigação de corrupção parece estar usando
os mesmos critérios editoriais da Folha: R$ 300 mil pra petista é manchete,
para tucano é pé de página.
Mas a reportagem de Valente não dá para ser apagada. E vai
ter desdobramentos.
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