Foi no dia 5 de março de 1967, que caiu num domingo, que a
Feira de Santana recebeu a visita do Marechal Humberto de Alencar Castelo
Branco, primeiro presidente da república com o advento do golpe militar de
março de 1964.
A visita aconteceu 10 anos depois que o presidente civil
Juscelino Kubitschek aqui esteve, em janeiro de 1957, para inaugurar o primeiro
sistema de água encanada, partindo do Parque Lagoa Grande.
Além de conhecer a cidade já apontada como o grande reduto
da esquerda, e visitar obras do governo estadual o presidente Castelo Branco,
já próximo de passar o comando da Nação a outro militar, o Marechal Arthur da
Costa e Silva, venho a Feira de Santana também
para ver o funcionamento da Indústria Incoveg, concebida por homens de
negócios da Feira.
Castelo Branco pisou na terra de Senhora Santana às 9 horas
e 45 minutos. Com ele vieram de Brasília membros da Casa Civil e o Chefe da
Casa Militar, o general Ernesto Geisel, que voltaria a Feira de Santana em
1976, já como presidente para anunciar mais uma etapa da duplicação da
Feira-Salvador e a rede de esgotos.
Vale ressaltar que no curto período entre a doença de Costa
e Silva e a posse de Geisel, o país foi governador por uma Junta Militar
formada pelos titulares dos antigos Ministérios do Exercito, da Aeronáutica e
da Marinha. Inúmeras personalidades integraram a comitiva presidencial a partir
da chegada em Salvador.
O governador Lomanto Junior, eleito pelo voto direto em 1962
e que a exemplo do presidente estava findando o mandato.
O novo governador Luiz Vianna Filho, que por ter sido
indicado e homologado pela Assembléia Legislativa passou a ser chamado de
governador “biônico”.
O também indicado governador do vizinho Estado de Sergipe
Lourival Batista, casado com uma filha de João Marinho Falcão, portanto com
laços de família na cidade.
A caravana contava ainda com vários parlamentares baianos,
entre eles o feirense Wilson Falcão que
cumpria seu primeira mandato de deputado
federal e os deputados estaduais
Áureo de Oliveira Filho e Hamilton Cohin, representantes da Feira na
Assembléia Legislativa do Estado.
Já na linha de frente local, recebendo o presidente em nome
da cidade, o professor Joselito Amorim que em maio de 1964 assumiu a prefeitura
substituindo Francisco Pinto tirado do poder pelo golpe militar.
Também recepcionando o ilustre visitante o prefeito eleito
João Durval Carneiro, com posse marcada para 7 de abril e o médico Augusto
Matias da Silva, secretário municipal de Saúde e Assistência Social e
presidente do diretório municipal da Arena, partido que dava sustentação ao
regime.
Voltando àquela Feira de Santana de quase meio século atrás
(48 anos), vale a pena lembrar as autoridades estavam na fila para os
cumprimentos ao chefe da nação.
Dom Jackson Berenguer Prado (bispo diocesano), Monsenhor
Renato Galvão (Cura da Catedral), Capitão Arnaldo Saback, (Presidente do Tiro
de Guerra 17), Capitão Arlindo Barbosa,
(Representante dos ex-combatentes residentes na cidade), Amélio Amorim (Presidente do Rotary Clube de
Feira de Santana), Gilberto Costa (Delegado de Polícia), Major Walter Alves
Guimarães (Delegado Regional), Valdemar da Purificação (Presidente da
Associação Comercial), João Marinho Falcão (Representando as classes
produtoras) e os vereadores Newton
Tavares Carneiro, Godofredo Leite, Jorge Mascarenhas, José Manuel de Araújo
Freitas e José Ferreira Pinto, todos da Arena.
Terminados os cumprimentos, o prefeito Joselito Amorim,
saudou o ilustre visitante com um discurso escrito que a imprensa publicou na
íntegra. Disse o prefeito em determinado trecho:
- “Não há termos de comparação entre o Brasil da época da
subversão e da corrupção com o Brasil de hoje, do governo Castelo Branco,
austero e honesto, que baniu as falcatruas e escândalos”.
Já o presidente, discursando de improviso, começou citando o
general e chanceler Juracy Magalhães, para em seguida fazer uma revelação, que
ainda não foi pesquisada em profundidade pelos historiados da vida feirense.
O marechal disse no seu improviso que visitando Feira de
Santana satisfazia um antigo e grande desejo, para em seguida explicar:
“Com o agravamento da crise nacional em 1963, quando ainda
comandava o Quarto Exercito, acertei com Juracy Magalhães que quando a
revolução eclodisse, se as forças da subversão dominassem Recife e Salvador, a
sede do Quarto Exército viria se instalar em Feira de Santana”.
Segundo o noticiário
da imprensa, encerrados os discursos, ao presidente e aos presentes foi servido
um lanche nas dependências da Prefeitura. O noticiário não informa se o “comes e bebes” foi no saguão ou no salão
nobre.
Ao fim da solenidade no Paço Municipal e depois de caminhar
alguns metros pela Avenida Getulio Vargas cumprimentando e sendo cumprimentado,
o Presidente foi conhecer o Fórum
Filinto Bastos, obra executada pelo governador Lomanto Junior em terreno que
havia sido doado pela prefeitura, ainda no tempo do prefeito deposto Francisco
Pinto.
Depois do fórum a caravana se dirigiu a outra obra do
governo do Estado, o Parque Rodoviário Estadual, localizado às margens da
Rodovia Feira/Juazeiro, mais tarde conhecido como DERBA.
Concluído o programa o presidente acompanhado de sua
comitiva e das autoridades locais visitou a Incoveg, indústria genuinamente
feirense erguida no Núcleo Piloto do Cento Industrial do Subaé, também
conhecido como “a vitrine do parque industrial feirense”, por reunir unidades
industriais às margens da rodovia Feira/Salvador.
Castelo Branco foi recebido na entrada da indústria por
vários diretores, tendo á frente João Mendes da Costa Filho. Fazendo elogios, o
presidente percorreu todas as instalações da fábrica.
Exatamente às 13 horas o presidente se despediu da Feira de
Santana rumando diretamente para o Aeroporto de Ipitanga, de onde voou com
destino ao Estado da Guanabara.
Sem presença no ato histórico, pois tinham sido afastados do
poder local pelo golpe de 1964, as lideranças do velho PSD, espalharam que o encontro dos políticos da Arena e outras
autoridades, com o presidente da república, entraria para a história da cidade
como sendo o dia do “beija pé”. (Adilson Simas)
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