terça-feira, 27 de janeiro de 2015

OS ARRUFOS DE MARTA PARA RETORNAR AOS SALÕES


Aceitam-se críticas ao governo não propriamente por falta de transparência, mas pela dificuldade em comunicar seus programas. Aceitam-se críticas à condução da política econômica por parte de Guido Mantega.
Mas não as críticas de Marta Suplicy. Marta é uma pessoa criada nas altas rodas de São Paulo, mas que se fez na política através do PT. Sua crítica é oportunística, um passaporte para retornar ao seu habitat natural.
Seu universo de relacionamento sempre foi a elite paulistana; sua parceria central, os jornais, com quem sempre cultivou boas relações. Na entrevista ao Estadão, em que procurou detonar Dilma, gabou-se do jantar que promoveu com grandes empresários e Lula.
Nada contra.
Tornou-se sexóloga por conta própria e da Globo, locomotiva social por conta da junção dos sobrenomes Smith de Vasconcellos e Suplicy  e política por conta do peso de Suplicy. Foi uma boa prefeita para a periferia, conforme atestam ainda hoje seus índices de popularidade.
Comprometeu sua carreira política colocando o coração acima dos objetivos políticos - dependendo do ponto de vista, pode até ser um componente humanizador da sua personalidade - mas tratando Eduardo Suplicy, o Bom, com a mesma falta de respeito que dedica, agora, ao governo do qual participou.
Depois, alçou vôo na área federal.
Como Ministra do Turismo mostrou gana, visão estratégica, montando planos estruturantes e conseguindo estimular o setor.
Depois, murchou. Sua passagem pelo Ministério da Cultura foi pífia. Pior: utilizou-a como passaporte para retornar  aos salões.
O primeiro sinal foi a manutenção do abandono dos pontos de cultura e de demais políticas estruturantes do MinC. Alguém se lembra dela - a pessoa que critica a falta de transparência do governo - prestando contas públicas uma vez sequer de sua estratégia à frente do MinC?
O único tema que a sensibilizou foi a iniciativa de direcionar recursos da Lei Rouanet para a moda, atropelando decisão da Comissão Nacional de Incentivo à Cultura, que vetara um projeto de R$ 2,8 milhões do estilista Pedro Lourenço.
Saudada no expressivo blog Chic, de Glorinha Kalil, Marta colocou a Lei Rouanet a serviço de Lourenço, Alexandre Herchcovitch, estilistas conhecidos no exterior, que atuam em nível de mercado.
Para tentar dar consistência a essa escolha, definiu quatro eixos de análise dos projetos de moda: internacionalização, simbolismo, preservação de acervos e formação de novos estilistas ou de outras pessoas ligadas à moda. Os quatro critérios abarcavam tudo, até desfile de moda no Brasil.  Pouco público? Sem problema, porque há muita mídia, rebatia a musa dos estilistas.
Em outros momentos, a moda mereceu uma atenção maior das autoridades. Mas sempre foi tema do MDIC (Ministério do Desenvolvimento Indústria e Comércio) e da Apex (Agência Brasileira de Promoção das Exportações).
Fosse uma gestora menos fútil, Marta teria tratado de procurar seus colegas de Ministério para discutir uma política conjunta de promoção da moda. Aí, sim, lançaria algo estruturante, um projeto de exportação e promoção cultural no qual o componente cultural fosse um adereço. No rastro dos desfiles internacionais, poderia acoplar outros aspectos da cultura brasileira, como a música e a dança.
Mas aí seria abrir mão do prazer indizível de comportar-se como mecenas de rico com dinheiro público.
Agora, dá início ao segundo tempo de reinclusão nas rodas sociais, exercitando o esporte preferido da elite paulistana: pau no governo Dilma e na "falta de transparência".
Outros podem e devem exercitar essa crítica. Marta, não.
Mulher fútil.

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