O JN virou apenas um entremet muito do insosso entre um
melodrama e outro.
por Nirlando Beirão
Sempre revolucionário – sem mencionar outros atributos seus,
como a blindada imparcialidade, o apartidarismo irrestrito e o compromisso em
defender os interesses da nação, e não os do casa –, o jornalismo da Globo
inverteu a lógica do sanduíche, segundo a qual o recheio deve ser mais saboroso
do que as peças que o contêm.
O Jornal Nacional, sob a expertise do chef Ali Kamel,
decretou, voluntariamente ou não, outro método de degustação. As novelas das 7
e das 9 é que falam hoje ao apetite – peculiar que seja esse apetite – do
telespectador. O JN virou apenas um entremet muito do insosso entre um
melodrama e outro.
O Ibope, a quem não se pode atribuir propósito de prejudicar
a Globo, indica que a plateia do JN minguou em 30% nos últimos dez anos. Na
esteira do show produzido em conjunto pela Globo e pelo Supremo Tribunal, o
carro-chefe do jornalismo platinado mergulhou recentemente em inéditos 18
pontos de audiência. Um recorde.
Em prol dos imperativos comerciais (a publicidade brasileira
é a última adepta do JN), o jornalismo da Globo inverte mais uma vez a
realidade e tenta atribuir às novelas – a que a precede e a que a sucede – a
culpa pelo desastre de público. Mas está na cara que, dos vilões que o JN
operosamente fabrica, nenhum tem a mesma graça perversa, por exemplo, daquele
Félix de Amor à Vida.
Haverá quem queira tributar os tropeços do JN a detalhes
menores como, digamos, a credibilidade. Bobagem: credibilidade nunca foi o
forte da Globo, mesmo antes do Ali Kamel.
(Carta Capital)
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