Mandar médicos para lugares abandonados não é uma solução
perfeita, mas a alternativa é o inferno atual
O mais espantoso na mobilização dos médicos contra o plano
do governo de contratar 12 000 profissionais para trabalhar em regiões pobres
do país não é seu caráter egoísta.
Vivemos num mundo de ambições individuais exacerbadas e
muita vontade de enriquecer. Adam Smith, um dos pioneiros no estudo do
capitalismo, dizia já no século XVIII que o progresso de uma sociedade era
fruto da soma de seus egoísmos individuais.
O problema é o caráter distorcido do debate. Os egoísmos não
podem ser ilimitados nem beneficiar um lado só, pois podem criar patologias
morais e sociais.
Resumindo um pouco o problema: os médicos querem que uma
imensa parcela de brasileiros continue pagando as dores de um sistema de saúde
desigual e ineficiente – na esperança de que os doutores possam proteger as
carreiras e manter o modo de vida. Nascido e criado numa família de médicos em
várias gerações, sou um admirador desses profissionais e respeito uma opção de
vida que envolve uma inegável capacidade de dedicação a pessoas em situação de
risco.
O debate não é este, porém.
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