quinta-feira, 28 de junho de 2012

ILDES FERREIRA - A SECA ACABOU?


E SECA ACABOU?
            A maior seca dos últimos 50 anos!  250 Municípios em situação de emergência! 5 milhões de pessoas afetadas pela seca na Bahia! Essas eram algumas das manchetes veiculadas pela imprensa e utilizadas como frases de efeito pelas autoridades diante de um longo período de estiagem que trouxe muitos transtornos à vida das pessoas e à economia do Estado, resgatou o velho carro-pipa, o clientelismo político e a indústria das secas.
            Diante do grave problema, a sociedade entrou em ebulição: os Municípios (re)arrumaram as Comissões de Defesa Civil, transformando-as em Conselhos Municipais de Defesa Civil; criaram-se Comissões Municipais de Acompanhamento às Ações Emergenciais de Combate aos Efeitos das Secas; o governo liberou alguns trocados para amenizar a situação. Mas de repente, tudo mudou:  bastou chegarem uma (por enquanto, única) cesta de alguns poucos quilos de arroz e de feijão, o “vale-seca” de R$ 65,00 por quatro meses, anúncio de crédito subsidiado e São Pedro mandar um pouco de chuva para algumas localidades isoladas – basicamente a região do Recôncavo, para não se falar mais no assunto.  O tema saiu da pauta da mídia local, estadual e nacional; os governantes deixaram de falar no assunto; os movimentos sociais recuaram; as mobilizações municipais murcharam. Feira de Santana é um exemplo disso: a “Comissão de Seca” que foi criada, com ampla representação da sociedade, reuniu-se por três vezes na primeira semana; depois, com uma semana; depois, com quinze dias. E nunca mais reuniu-se. Nas reuniões realizadas, discutiram-se questões relacionadas às medidas emergenciais e a necessidade de se buscarem medidas estruturantes para evitar que a falta de água voltasse a ocorrer no próximo período de seca; falou-se da construção de açudes, um proprietário rural chegou a oferecer áreas; falou-se da construção de pequenas barragens ao longo do rio Jacuipe; descobriu-se que havia um programa federal que poderia apoiar tais iniciativas. Nada mais aconteceu.
            É que a prioridade agora é outra. Fala-se somente das eleições municipais, das coligações partidárias, das possibilidades de acesso ao poder. Este é o assunto predileto do momento, inclusive em quase todos meios de comunicação.  O governo agradece, porque deixou de ser cobrado e acuado, mas a população padece, já que a seca continua, mesmo naqueles lugares que chegou uma pequena quantidade de chuva, mudando inclusive a paisagem, com o verde exuberante que emergiu, a “seca verde” continua.
            Um programa permanente de enfrentamento dos efeitos da seca só seria possível com a cobrança e pressão igualmente permanentes dos movimentos sociais, dos sindicatos de trabalhadores rurais e demais organizações que atuam no meio rural. Afinal, como diria frei Beto, “governo é como feijão, só amolece com pressão”. Na ausência disso, fica tudo como dantes no quartel de Abrantes. Mas os efeitos das secas continuam devastadores, afetando diretamente a vida daqueles que vivem da agricultura e indiretamente toda sociedade, porque, a economia afetada, atinge a todos: os alimentos sobem de preço, a circulação de dinheiro diminui, o desemprego cresce.
Ildes Ferreira de Oliveira
Sociólogo, professor titular do DCHF/UEFS.
                

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