sábado, 4 de dezembro de 2010
RIO CONTRA O CRIME
O antropólogo Luiz Eduardo Soares, um dos nossos maiores especialistas em matéria de segurança, usou três vezes na última semana a expressão "ilusão de maniqueísmo" (e equivalentes) que os neocríticos da mídia repetiram, repetiram, mas não entenderam.
A primeira vez foi num texto postado em seu blog na quinta-feira, dia 25/11, quando ainda estava em curso o assalto à Vila Cruzeiro (comentado neste Observatório). Dias depois no Roda Viva (segunda, 29/11, da TV Cultura) e, finalmente, em entrevista à Folha de S.Paulo (2/12, pág. C-4).
É evidente que ex-secretário nacional de Segurança Pública está provocando a mídia a escapar da bipolaridade da cobertura porque para ele, além dos agentes do Estado e dos criminosos, há outros players – muito mais importantes e mais perigosos – que os noticiaristas não conseguem perceber.
Tanto em Elite da Tropa 2 que serviu de suporte ao filme Tropa de Elite 2 como nesses pronunciamentos, Soares quer empurrar a imprensa para assumir uma posição de cobrança no lugar de apenas entusiasmar-se com o inédito sucesso operacional dos últimos dias. Como não faz política, ele não pode cobrar das autoridades uma ação mais abrangente contra a banda podre da polícia, as milícias e principalmente contra o poderoso esquema internacional de lavagem de dinheiro que financia e mantém o comércio de drogas e armas.
Os chefões das favelas cariocas são apenas os intermediários, "pés-de-chinelo", que mandam matar e morrem. Os financiadores estão em lugar seguro, em outros estados principalmente São Paulo e Paraná, vivendo como nababos.
Esquema incólume
O jornal Valor Econômico na primeira página de quinta-feira (2/12) oferece uma chave para entender a sutil insistência de Luiz Eduardo Soares na condenação do "maniqueísmo". Sem entrar em detalhes, por óbvias razões, o jornal de economia e negócios revelou a existência do sofisticadíssimo Laboratório de Tecnologia contra a Lavagem de Dinheiro (LAB-LD) junto à polícia do Rio e apontou a prisão da companheira do traficante Polegar como resultado do trabalho de investigação.
Cortina de fumaça: Viviane Sampaio da Silva é fichinha, há poderosos chefões que ainda não apareceram.
E por que ainda não apareceram nem estão atrás das grades? Aqui entra a pregação de Soares contra a corrupção policial. O trabalho do LAB-LD já poderia ter rendido prisões espetaculares. Além da perda de território, os narcoterroristas poderiam a esta altura estar à míngua e o seu negócio destroçado.
O esquema de lavagem de dinheiro que mantém o narcotráfico está incólume. Por que não foi desmantelado? É esta a pergunta-mensagem que Soares quer passar à mídia e esta não consegue entender – muito menos converter em matéria jornalística.
Hamlet, com tantas dúvidas, soube perceber que havia algo de podre no reino da Dinamarca. Tão sabida, nossa mídia não desconfia, não vê e não sente o cheiro da corrupção. A empáfia não deixa.
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