Por Fernando Brito
A edição do Jornal Nacional de hoje é um dos mais simbólicos
momentos de covardia da TV brasileira.
A Globo voltou atrás de tudo o que apontou ontem e encampou,
sem questionar, a versão de que “o porteiro mentiu”, sem nenhum questionamento
sobre esta versão, inclusive a da inacreditável história de que só hoje se fez
a perícia dos áudios de ligações apreendidas no dia 5 de outubro.
O porteiro, até agora anônimo, vai ser processado, se aceito
o pedido do procurador geral da República, Augusto Aras, com base na Lei de
Segurança Nacional.
Ao dizer que o motorista do assassinato de Marielle Franco e
Anderson Gomes chegou à portaria do condomínio e disse que ia à “Casa 58”, onde
morava Jair Bolsonaro, imputou ao Presidente “fato definido como crime ou fato
ofensivo à [sua] reputação”.
Reputação de quem, àquela altura, nem presidente da
República era.
Falta, até que se arranje um, motivo para que o porteiro
criasse uma história que sabia que iria mexer com gente graudíssima e contra a
qual sabia que havia a gravação de tudo o que se passara.
A história não faz sentido.
Hoje cedo, Ricardo Noblat, na Veja, escreveu que cabeças
coroadas da República “concordaram que a TV Globo não levaria ao ar o que levou
se não tivesse absolutamente segura da procedência das informações.”
A ameaça de cassação de sua concessão, afirmada
explicitamente pelo presidente, “fez diferença”.
Afinal, o que é perder o respeito perto de perder uma rede
de TV?
O império Marinho sai desmoralizado desta batalha de
Itararé, que nem chegou a acontecer.
Bom para entender que, quando enfrentada, a Globo pode ser
um tigre de papel.