Por Fernando Brito
Para “livrar o couro” do filho
Marcelo, o dono da Odebrecht, Emílio, enviou carta a Sérgio Moro onde afirma
que foi ele – e apenas ele – quem teria autorizado o uso de “recursos materiais
e humanos” na reforma do sítio que, segundo o jornal O Globo, é “atribuído ao
ex-presidente” (“atribuído”, aliás, virou a novidade da moda na Lava Jato).
Esqueçam-se os aspectos éticos –
que são de natureza subjetiva, não penal – e chega-se à seguinte situação: se
foi uma iniciativa pessoal – e diz Emílio Odebrecht que a pedido de Marisa
Letícia – não há ato de ofício praticado em contrapartida, nem mesmo o
“genérico” usado por Sérgio Moro para transformar em “prova” a convicção de que
o apartamento do Guarujá era – mesmo nunca tendo sido de Lula – produto de
indeterminados contratos da Petrobras.
Como a legislação penal começa do
ato e não do indivíduo (uma obviedade que tem de ser repetida nestes tempos
estranhos), passa-se à questão seguinte: qual é o crime da reforma do sítio,
ainda que realizada com recursos empresariais? Pode haver, claro, ações de
natureza fiscal, pois despesas não relacionadas à atividade empresarial, mas à
vontade do dono da empresa equivalem a retiradas de seu caixa e isso tem de ser
declarado e não pode gerar benefício tributário.
Nada mais.
Ainda que seja falsa – e tem muita pinta de ser – a versão de
Emílio sobre as reformas do sítio, porque hoje mesmo uma arquiteta disse ter
sido paga por Fernando Bittar, proprietário do imóvel, para fazer um projeto
para as obras ali – não existe um mísero indício de que as benfeitorias sejam
resultado de algum acordo envolvendo negócios públicos.
Hipótese que já se revela absurda
quando se imagina que aquele que o fanático Deltan dallagnol diz ser o
“comandante da corruptocracia” teria se beneficiado com um apartamento de
segunda e um reforma furreca de uma casa de sítio.
A Folha, aliás, ilustra suas
matérias com uma fotografia – a que reproduzo acima – cuja legenda é “salão
principal do espaço gourmet” do sítio que, no máximo, merecia a descrição de
“foto da cozinha”.
Basta o bom senso para ver que “o
maior escândalo de corrupção do planeta” não combina com o que se arranjou para
“provar” o envolvimento - e mais ainda, a chefia – de Lula nesta história.
Em compensação, revela-se o jogo
perverso de acordos de delação feitos “sob medida” para incriminar pessoas e
que colocam pai e filho dizendo e desdizendo de acordo com o que é mais
conveniente para seu dinheiro.
Não têm respeito para a honra
alheia, mas têm um imenso amor pelo seu império bilionário.
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