Por Nirlando Beirão
O jornalismo do “jornalista”
Na CartaCapital
O problema do jornalismo da Globo começa com aquele
“jornalista” que Roberto Marinho tanto insistia em apor à sua condição
inequívoca, categórica e bastante autoritária de patrão.
Jornalista ele pode ter sido, sim, lá nos primórdios bicudos
do século XX, mas, quando o doutor Roberto se firmou depois como operoso
empresário, transitando alegremente na avenida de mão dupla aberta pelos
interesses convergentes das Organizações Globo e do regime fardado, jornalista
ele deixou de ser. Por mais que reivindicasse a mítica insígnia e a usasse
abusivamente para constranger seus subordinados, o “jornalista” faleceu no
momento em que passou a traficar a notícia em favor de suas finanças pessoais.
Mas não é assim que se comportam, no Brasil, nove entre dez
dos oligarcas das comunicações? É verdade, mas o fato é que no quesito
manipulação da verdade o doutor Roberto foi incomparável.
Nas sucessivas mesas-redondas que o Jornal Nacional promoveu
dias atrás para festejar os 50 anos da emissora, o âncora William Bonner chegou
a ensaiar um rápido mea-culpa a propósito de um ou outro episódio em que os
interesses fiduciários e ideológicos do patrão prevaleceram sobre a verdade dos
fatos.
Passeando o olhar por aquele cenário de grisalhos
jornalistas, profissionais de respeito com muitas histórias nas costas, não dá
para não sentir por eles uma simpatia solidária. Não deve ser nada fácil
preservar certa decência numa escola de jornalismo que cobra ética dos
adversários políticos e comerciais, mas não gosta de praticá-la, ela mesma.
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