terça-feira, 19 de maio de 2015

A MORTE NOSSA DE CADA DIA

Por Eliana Rezende

Quantas mortes cotidianas, pequenas, miúdas somos capazes de acumular em uma existência inteira?

Morremos a cada grande decepção, de tédio, de medo, de desejos, por ausências, por faltas, arrependimentos, anseios, despedidas e até de vergonha!

Estranho pensar que as pessoas, em geral, temem tanto sua morte derradeira e final, aquela que consome a carne, remove o oxigênio e paralisa células e coração, e se esquece que passa uma vida inteira aprendendo a morrer, deixar, desapegar, abandonar... ser deixado, largado e abandonado, preterido e até esquecido!

Então por quê do medo da última de todas as mortes?

Aquela que não nos obrigará a acordar no dia seguinte para de novo ver-mo-nos morrer?

Ainda há os que morreram uma vez e nunca mais conseguiram voltar a viver.

A morte em vida apagou-lhes o brilho, as vontades, os desejos, o viço... Morreram quando encontraram o medo do medo. Não foram capazes de encarar suas fragilidades, decepções, frustrações e optaram por, simplesmente, esquecer para ser esquecidos.


Assistem de longe aquela que teria sido sua vida.

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