Por Miguel do Rosário
A mídia vai tentar esconder isso, mas não será possível.
Os procuradores que respondem pela Operação Lava Jato
afirmaram ontem, em coletivas de imprensa, que o esquema de cartel das
empreiteiras em obras da Petrobrás teve início antes da chegada dos diretores
Paulo Roberto Costa e Renato de Souza Duque.
Aliás, sempre é bom lembrar que Costa e Duque estavam na
Petrobrás desde os anos 70, e que assumiram cargos de responsabilidade bem
antes da eleição de Lula.
Voltando aos procuradores, eles afirmaram que o esquema dura
há, no mínimo, 15 anos, ou seja, desde 1999, bem antes de Lula.
Sem esquecer que as mesmas empreiteiras envolvidas no
esquema junto a Petrobrás, desbaratado pela Polícia Federal, também estão
envolvidas com escândalos relacionados à oposição, como o Rodoanel de São
Paulo.
Essas informações são importantes para que o escândalo seja
despolitizado e tratado como ele é: uma esquema de corrupção que precisa ser
investigado com objetividade.
Corruptos e corruptores acusados no escândalo da Petrobrás
não queriam implantar nenhum “bolivarianismo” no país.
Não estão interessados em “revolução comunista”.
Não participam do “Fóro de São Paulo”.
Muito provavelmente não são nenhum entusiastas da reforma
agrária ou da necessidade de ampliação de programas sociais.
Ao contrário, são empresários politicamente conservadores,
que corromperam servidores que pensam da mesma forma.
Os marchadores golpistas, portanto, devem baixar a bola,
porque a informação do Ministério Público confirma um fato insofismável: as
investigações de hoje apenas são possíveis em virtude da autonomia e liberdade
proporcionadas por Dilma Rousseff à Polícia Federal e ao próprio MP.
Não se trata apenas de autonomia funcional, mas de um
posicionamento político republicano, e que inclusive às vezes criticamos como
republicano demais, ao permitir um proselitismo político e partidário de
oposição dentro das próprias instituições do Estado.
Entretanto, desta vez, o republicanismo radical de Dilma deu
certo.
Se os delegados federais responsáveis pelo Lava Jato, ao
invés de flagrados fazendo festinha para Aécio Neves e xingando o governo, no
Facebook, tivessem sido apanhados na situação contrária, fazendo festinha para
Dilma e xingando o PSDB, Dilma estaria sendo chamada de “bolivariana”.
E “bolivariano”, no vocabulário especial da mídia
brasileira, que é uma espécie de universo paralelo do ultraconservadorismo, mas
com grande influência nos estamentos superiores da sociedade, significa
autoritarismo.
Se houve a intenção de transformar a Lava Jato num ensaio de
golpe político contra a presidenta, não está dando certo.
A presidenta prometeu que as investigações seriam levadas às
últimas consequências e que não sobraria pedra sobre pedra.
Está cumprindo o que prometeu, e da maneira mais democrática
e republicana: sem interferir nas investigações.
Como o escândalo respinga em todos os principais partidos e
teve início na gestão FHC, atravessando a era Lula, até explodir no governo
Dilma, a imprensa de oposição terá dificuldade em aplicar seus critérios de
indignação seletiva.
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