Se investigar as origens do escândalo, completando a pauta levantada por Paulo Francis há 17 anos, terá que reconhecer que a corrupção na Petrobras tem raízes mais profundas (Paulo Francis não morreu)
Por Luciano Martins Costa
Os jornais do fim de semana registram o que pode vir a ser o
ponto de inflexão das relações viciadas entre a política e os interesses
privados no Brasil. A prisão de 24 altos executivos, entre os quais quatro
presidentes de grandes empresas e um ex-diretor da Petrobras, coloca nas mãos
da Justiça o material necessário para aprofundar as investigações sobre a
corrupção e passar a limpo o sistema de financiamento de campanhas eleitorais.
A última etapa da ação policial está sendo chamada de “Juízo
Final”. Os jornais dizem que serão citados pelo menos 70 senadores e deputados.
Também está publicado que todos os partidos, com exceção do PSOL, foram
financiados pelas empreiteiras acusadas no escândalo.
O evento coloca o Brasil diante da possibilidade de levar à
frente uma “Operação Mãos Limpas” como a que sacudiu as instituições italianas
nos anos 1990. O alto risco dessa operação reside no fato de que sua
continuidade pode depender do empenho da imprensa em dividir com equilíbrio e
de forma equânime as responsabilidades, sem omitir ou dissimular as culpas
conforme a filiação partidária dos acusados. Deve-se lembrar também que o
esquema descrito pelos jornais na segunda-feira (17/11) é uma cópia exata do
“clube de fornecedores” revelado no escândalo do metrô de São Paulo.
Entre as muitas páginas publicadas desde sábado (15), apenas
a Folha de S. Paulo dá espaço para os dois pontos que irão definir o alcance da
ação policial. Num deles, o colunista Luiz Fernando Viana (ver aqui) critica a
omissão da imprensa em buscar as origens do esquema de corrupção que envolve
gestores públicos e fornecedores de produtos e serviços ao Estado. O jornalista
questiona: “Por que passamos a achar que nos cabe apenas noticiar os
acontecimentos mais recentes, sonegando ao leitor informações que ampliariam
sua capacidade de discernimento?”
No outro exemplo, o articulista Ricardo Melo observa (ver
aqui), muito a propósito, que, em 1997, o jornalista Paulo Francis afirmou, em
comentário no programa Manhattan Connection, que havia um esquema de
roubalheira na Petrobras. O então presidente da empresa, Joel Rennó, em vez de
tomar alguma providência, abriu um processo de US$ 100 milhões contra Francis,
lembra o articulista da Folha.
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