quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

A RUA SE TORNOU UMA EXTENSÃO DO ESTÚDIO DE TV?

Wilson Ferreira

A grande mídia coloca a morte trágica do cinegrafista Santiago Andrade num quadro mais geral de supostos “ataques arbitrários a jornalistas” que representaria uma “ameaça à liberdade de informação”. Esse discurso parece cumprir um duplo propósito: esconder o fato de que essas manifestações apontam para uma profunda mudança nas relações entre mídia e sociedade e, também, encobrir o aproveitamento oportunista do episódio com o objetivo de reforçar ainda mais a escalada da percepção do medo e instabilidade que colocaria em xeque a legitimidade de um governo democraticamente eleito. 
A morte do cinegrafista poderia ser o sintoma de uma tendência mais generalizada onde as ruas se transformam em extensões do estúdio da TV e a mídia acaba se transformando na própria notícia. Se isso for verdade, estamos diante de mais uma bomba semiótica que demonstra que a atual guerra semiológica travada para a conquista da opinião pública passou para a fase da guerra total.
Certa vez o teórico e estrategista da ditadura militar brasileira, Golbery do Couto e Silva, disse: “Tudo, menos um cadáver!”. Era o período tenebroso da repressão política e do desaparecimento de ativistas políticos. Aparecer um cadáver que se transformasse em mártir era tudo que a ditadura não queria naquele momento e, por isso, a mídia era duramente controlada e censurada.

Era uma época em que a informação era perigosa para o Estado militar. A informação era um bem escasso, alienado e submetido às formas de dissimulação como a manipulação, mentira, censura etc.

Hoje, esse cenário de dissimulações da informação foi deixado para trás. Vivemos o momento da simulação ou daquilo que o pensador francês Jean Baudrillard chamava de “obscenidade” e “êxtase da comunicação”: não só as imagens de acontecimentos se proliferam e se multiplicam como, principalmente, começam a surgir relações cada vez mais promíscuas entre os acontecimentos e as mídias a tal ponto que não sabemos mais quem transmite e o que é transmitido – é o império da simulação. CONTINUE LENDO

Nenhum comentário:

Postar um comentário