Wilson Ferreira
A grande mídia coloca a morte trágica do cinegrafista
Santiago Andrade num quadro mais geral de supostos “ataques arbitrários a
jornalistas” que representaria uma “ameaça à liberdade de informação”. Esse
discurso parece cumprir um duplo propósito: esconder o fato de que essas
manifestações apontam para uma profunda mudança nas relações entre mídia e
sociedade e, também, encobrir o aproveitamento oportunista do episódio com o
objetivo de reforçar ainda mais a escalada da percepção do medo e instabilidade
que colocaria em xeque a legitimidade de um governo democraticamente eleito.
A
morte do cinegrafista poderia ser o sintoma de uma tendência mais generalizada
onde as ruas se transformam em extensões do estúdio da TV e a mídia acaba se
transformando na própria notícia. Se isso for verdade, estamos diante de mais
uma bomba semiótica que demonstra que a atual guerra semiológica travada para a
conquista da opinião pública passou para a fase da guerra total.
Certa vez o teórico e estrategista da ditadura militar brasileira,
Golbery do Couto e Silva, disse: “Tudo, menos um cadáver!”. Era o período
tenebroso da repressão política e do desaparecimento de ativistas políticos.
Aparecer um cadáver que se transformasse em mártir era tudo que a ditadura não
queria naquele momento e, por isso, a mídia era duramente controlada e
censurada.
Era uma época em que a informação era perigosa para o Estado
militar. A informação era um bem escasso, alienado e submetido às formas de
dissimulação como a manipulação, mentira, censura etc.
Hoje, esse cenário de dissimulações da informação foi
deixado para trás. Vivemos o momento da simulação ou daquilo que o pensador
francês Jean Baudrillard chamava de “obscenidade” e “êxtase da comunicação”:
não só as imagens de acontecimentos se proliferam e se multiplicam como,
principalmente, começam a surgir relações cada vez mais promíscuas entre os
acontecimentos e as mídias a tal ponto que não sabemos mais quem transmite e o
que é transmitido – é o império da simulação. CONTINUE LENDO
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