terça-feira, 16 de outubro de 2012

O JOGO ARRISCADO DE SERRA


Com sua agenda negativa, candidato corre o risco de perder não só a eleição, como também a própria biografia

Ao olhar pelo retrovisor, no próximo ano, a campanha eleitoral em curso, o ex-governador José Serra poderá se arrepender de seu discurso. Em vez de apresentar suas realizações contra o problema crônico das enchentes, a integração dos sistemas de transporte ou as ações sociais que desenvolveu, Serra e seus estrategistas optaram por atacar o adversário Fernando Haddad em questões que resvalam para a baixaria.
Num rasgo de conservadorismo, ele insiste numa tecla que parecia esquecida, a da cartilha anti-homofóbica que Fernando Haddad mandou fazer no Ministério da Educação. O tema, para a cidade de São Paulo e seus gigantescos problemas, vale zero, mas Serra o vê como um cavalo de batalha. Infelizmente para ele, no entanto, descobriu-se que em seu próprio governo a Secretaria de Educação elaborou um kit para professores no qual recomendava mostrar aos alunos cenas de “beijo na boca entre duas meninas” para ilustrar situações reais do dia-a-dia atual da adolescência. O ponto que Serra usava contra Haddad pode, então, ser usado contra si mesmo.
Além do chamado kit-gay, a agenda de Serra contempla neste momento a promoção de um vereador eleito sob a plataforma “bandido bom é bandido morto”. O coronel Telhada, com quase 40 mortes em seu currículo, “sempre respeitou os direitos humanos”, de acordo com garantia dada por Serra. Pegunta-se: para quem já teve a Comissão de Justiça e Paz e as mães cujos filhos foram vítimas da desmedida ação policial ao seu lado, trocar o passado pela companhia de Telhada faz bem à biografia ou, mais uma vez, ajuda a melhorar São Paulo? 
Por fim, Serra acorda, passa o dia e vai dormir só pensando naquilo: o mensalão. Para ele, esta questão será crucial na definição do voto. Ele já recebeu conselhos de que a realidade pode ser outra. O tucano, entretanto, está certo de que é por aí que irá ganhar a eleição. Só mesmo depois de a campanha passar se saberá se Serra está com a estratégia correta. Inútil à cidade, talvez ela seja eleitoralmente produtiva. Pode ser, por outro lado, como acreditam até mesmo amigos dele, que essa agenda estreita e ideológica vai por a perder não apenas a eleição a prefeito, mas também um bom pedaço da biografia de político liberal cultivada até aqui por José Serra. A ver.




Por Leonardo Attuch

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