Moradores e comerciantes do charmoso Santo Antônio Além do Carmo dizem que usuários de crack vão espantar turistas
Moradores e comerciantes de um dos bairros mais charmosos de Salvador se mobilizam contra a instalação de um centro de apoio a dependentes químicos na região. Dizem que o posto atrairá “sacizeiros” (usuários de crack, na gíria baiana) e prejudicará o turismo local.
Colado ao Pelourinho, o Santo Antônio Além do Carmo reúne antiquários, pequenas pousadas sofisticadas e o Pestana Convento do Carmo, hotel histórico de luxo. Pelo casario antigo do bairro, placas de “vende-se” e imóveis em reforma denotam investimentos em alta.
O centro da polêmica é o projeto “Ponto de Encontro”, parceria entre o Cetad (Centro de Estudos e Terapia do Abuso de Drogas) da Universidade Federal da Bahia e as Voluntárias Sociais, órgão de assistência social ligado ao governo do Estado e presidido pela primeira-dama da Bahia, Fátima Mendonça, mulher do governador Jaques Wagner (PT).
A ideia é que o local seja ponto de referência para dependentes químicos, oferecendo tratamento, terapia e até ações de redução de danos, como entrega de seringas. Segundo o psiquiatra Antônio Nery Filho, coordenador-geral do Cetad, trata-se de serviço inédito na cidade, a exemplo dos existentes em países europeus. “É um local em que as pessoas poderão encontrar especialistas sem constrangimentos ou exigência de internação”, disse.
A escolha do ponto se deu pela localização no centro histórico de Salvador, que reúne grande quantidade de usuários de drogas. Para a instalação do projeto, as Voluntárias Sociais financiaram com R$ 200 mil a reforma, ainda em curso, de um casarão que até dezembro de 2010 abrigava uma escola estadual. Mas uma faixa afixada ao lado da obra mostra a falta de receptividade à iniciativa: “Moradores do Santo Antônio contra o centro de tratamento”, diz o texto.
“Vão tirar os viciados e trazer para um lugar que era tranqüilo. Eles acham que aqui é Pelourinho, aqui não é Pelourinho, aqui quem manda é a iniciativa privada. Você queria um negócio desses ao lado de sua casa?” critica João Cabral Pimenta, vice-presidente da associação de amigos do bairro.
“Se o governo queria fazer algo contra o turismo, não tinha melhor idéia”, ironiza o inglês Charles Butler, dono de uma pousada em frente ao casarão que deve abrigar o projeto. A associação de amigos do bairro entregou nesta semana ao Ministério Público um abaixo-assinado contra a instalação do centro, com 400 signatários.
Nery Filho rebate as críticas: diz que o centro terá horário de fechamento – por volta das 2h – e será benéfico à região, pois hoje não há órgão que atenda os dependentes químicos que circulam pela área. Afirma ainda que interesses econômicos movem a oposição ao projeto, sem previsão de início diante do impasse. “Se o governo ceder à pressão econômica, infelizmente não abriremos lá.”
A holding carioca LGR Emprendimentos, que atua no ramo de shoppings e hotéis e adquiriu cerca de 35 imóveis no bairro nos últimos anos, disse ser favorável à iniciativa, mas “não no local onde querem implantar”. “Outros projetos deveriam ser considerados para o local, como a manutenção da própria escola que foi fechada ou qualquer outro mais adequado ao perfil do centro histórico”, informou a empresa, em nota.
A Secretaria da Saúde do Estado, que mantém parceria com o Cetad, informou não ter envolvimento com o caso. As Voluntárias Sociais da Bahia também não responderam ao contato da reportagem (Último Segundo)
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